Sugestão de Leitura – A morte Azul

Ao escrever este livro, Robert Morris, um bom contador de histórias, fez um relato agradável e bem documentado dos males que a contaminação da água pode causar. Leitura fascinante para quem quer compreender melhor o problema e sua importância

Sinopse do Livro
Os escritores que popularizam temas científicos áridos e espinhosos o fazem, geralmente, porque contam histórias. Foi o que Robert Morris fez, com brilho. A leitura de A Morte Azul é fascinante, pelo relato agradável e bem documentado dos males que a contaminação pela água pode causar. Ele começa em 1827, com a partida de um garoto pobre de 14 anos, de uma então pequena cidade da Inglaterra, York. Seu rigor científico e sua compaixão fariam dele um dos pais da epidemiologia - e também da anesteseologia.

Este garoto era John Snow e seu destino era Newcastle. Seu tio, ousado aventureiro que percorreu selvas para encontrar minas de ouro e prata abandonadas no que hoje é Colômbia, percebeu seu brilho e resolveu apadrinhá-lo. Era um sujeito de posses. Snow não se deu este direito. Investiu tudo sem seu incansável trabalho, avançou teses impensáveis na época e morreu ainda sem tê-las completamente comprovadas. Seu legado, no entanto, foi inestimável.

Enquanto o jovem Snow era iniciado nos mistérios da cirurgia do século XIX por seu mentor, uma peste se alastrava pela índia e, em sua sanha mortal, chegava à Moscou e faria de Londres, poucos anos depois, em 1831, uma cidade sitiada. Era a cólera. Os manuais de medicina diziam, à época, que a cólera era causada "pela acridez pútrida da bile" - ou miasma - um dos quatro humores do corpo (sangue, fleuma, bile amarela e bile negra). Seu uso genérico para um sem número do doenças que provocavam vômitos e diarréia resultou em uma confusão que apenas ceifaria mais vidas. O fato é que, naquele momento, ninguém tinha a mais pálida idéia de qual era o real causador da doença.

Snow passaria a vida lutando contra a "morte azul". As condições sanitárias, no mundo desenvolvido e no em desenvolvimento, eram igualmente muito precárias. Não havia água encanada, lixo e fezes humanas e animais se acumulavam pelas ruas, e escapar da morte cedo por uma série de afecções era quase um lance de sorte. Foi mergulhado neste mundo que Snow, antes de seguir sua intuição sobre a cólera, acabou estudando o efeito do éter como sedativo e criou uma maneira de controlá-lo como anestésico, o que o levou aos aposentos da rainha Vitória para começar a atender seus partos, sempre cercados de enorme sofrimento.

A cólera voltaria a atacar Londres em 1848, com grande severidade. Enquanto isso, Snow matutava. Se um veneno transportado pelo ar espalhava a cólera, esta toxina deveria se comportar de forma semelhante às dos agentes anestésicos tóxicos que ele vinha testando. Mas isto não acontecia: a doença atacava algumas vítimas entre famílias nos mesmos edifícios, e todas respiravam o mesmo ar.

Snow enfrentaria muitos anos de descrédito e acusações de um establishment médico que não gostava de ser contrariado, além de um poderoso lobby das companhias de água que faziam pressão no Parlamento - de forma muito similar às perseguições que hoje são feitas a cientistas do clima, pelos menos interesses econômicos, e foram feitas, antes deles, a cientistas que ligavam o câncer ao fumo.

Depois da intuição, ele sabia que o agente provocador residia na água - não tinha, porém, como provar cabalmente sua hipótese, afirmada apenas por extensas pesquisas de campo, o que seria possível, apenas mais tarde, em 1865, na França, com a criação da microbiologia pelo francês Pasteur e, na Alemanha, por Koch, dois inimigos de um duradouro estranhamento gerado pela guerra franco-prussiana.

Snow morreu em 1858, vítima de um derrame. As histórias de Pasteur e Koch e de suas perambulações pelo mundo atrás da cólera não são menos interessantes, mas a de Snow, por sua coragem e ineditismo, são uma leitura enriquecedora, para o intelecto e para o espírito. Morris ainda narra a trajetória de epidemias causadas pela água já no final do século XX, em países ricos como Estados Unidos e Canadá, e no horror de Darfur. Ao final ele alerta: a água que bebemos não está completamente livre de agentes patogênicos, simplesmente porque seu tratamento, em grande escala, ainda não descobriu os modos de eliminá-los, todos.

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